Como se tornar mais estratégico | NR #3

Quem nunca ouviu essa:

“Eu queria ser mais estratégico/a no meu trabalho”

“Eu quero saber como meu trabalho impacta no resultado. Eu quero entender a conexão entre o que eu faço de tarefa com a performance da empresa. Eu quero me tornar um/a profissional melhor.”

E não está certo?

Quem sabe defender melhor o seu trabalho também consegue oportunidades melhores, convites para projetos legais, promoções, salários mais altos, entre outras coisas.

Portanto, é difícil imaginar alguém que trabalhe com internet e tecnologia que não queira saber exercitar sua capacidade intelectual ao máximo – visto que no fundo é isso o que oferecemos para nossos empregadores, sócios e clientes.

Mas, temos um problemão ali já estamos falando de querer ser alguma coisa. E querer ser é, na verdade, querer se tornar outro tipo de pessoa.

E nesse caso em específico implica em: 

1/ Saber pensar de forma mais estratégica;

2/ O que me leva a ações que são também mais estratégicas;

3/ E, ao repetir os dois, isso se torna tão frequente e natural que agora eu me torno uma pessoa diferente.

É importante ter isso claro porque quando falamos de soft skills não estamos falando de fazer um curso online e partir pra prática. Esse é o motivo, aliás, de ouvirmos o papo de que devemos contratar soft-skills e treinar os hard-skills com tanta frequência. Quem lidera times sabe o quão difícil é ensinar outras pessoas a terem comportamentos e hábitos melhores.É muito mais fácil pegar alguém com bons hábitos e ensiná-las como usar a ferramenta X ou aplicar o framework tal.

O texto abaixo é a minha atual melhor tentativa de colocar no papel como funciona o processo de pensar de forma analítica e estruturada. Está longe de ser uma receita de bolo ou um passo-a-passo infalível: mas espero que a partir dele seja possível tirar algo aplicável para o seu modo de pensar – e agir – no trabalho.

 

Começar com o resultado final em mente

“Faz assim, faz assado. A imaginação vai pelo ralo. (…)
eixa assim, faz igual ao coleguinha do lado que vai ser sucesso”
Robozin – Supercombo

 

Parte 1: Parar de focar em tarefas.

Ao invés disso, vamos focar no que queremos atingir como resultado. Ou melhor, focar no problema que precisamos resolver.

Lembre-se: você quer ser estratégico, o que significa causar um impacto a nível de negócio, e não somente entregar tarefas.

Portanto, questione. Investigue. Pergunte. Não embarque no modo robozinho ainda.

Para isso, vale a pena ter em mente:

O objetivo é resolver problemas.
O objetivo não é entregar o projeto/iniciativa/tarefa.

Essa distinção é chave: é já aqui que as diferenças entre profissionais plenos, sênior e especialistas começam a surgir.

Parte 2: Entender qual o resultado esperado.

Exemplo: minha empresa quer melhorar a taxa de pessoas que se cadastram no meu site, mas que não engajam e nunca mais voltam.

Forma errada de pensar: Bom, meu trabalho é escrever e-mails e push notifications, então vou usar isso e entregar tudo dentro do prazo que vai ser sucesso.

Forma certa de pensar: minha meta é descobrir porque tem pessoas que se cadastram mas não usam o produto – e agir a partir daí, na raiz. Ou, pensando bem, outra forma seria deixar de atrair os usuários errados. Isso também aumentaria a taxa de ativação.

Entende?

De novo: o que você quer é resolver o problema da empresa e do cliente – e não entregar o projeto.

Para isso, comece pelo final, pela compreensão de qual o objetivo. A partir daí você pode trabalhar de trás pra frente para resolver o problema.

Acionáveis deste bloco:

  • Focar no problema a ser resolvido, não nas tarefas;
  • Quando alguém te pedir para fazer algo, pergunte-se: “porque me pediram pra fazer isso? Qual o objetivo final?”
  • Não se deixe intimidar caso a sua solução esteja fora das suas capacidades técnicas ou do seu cargo. Leve esse problema de volta para o seu líder e discuta qual a melhor forma de prosseguir.

 

Colocar no papel

“There’s absolutely no difference between writing and thinking” – Jordan Peterson.

Agora que já está claro o objetivo é hora de colocar o Tico e o Teco para funcionarem.

Não sei se você já notou isso, mas não existe diferença entre escrever e pensar.

Então a melhor forma de exercitar suas capacidades de raciocínio é colocando as coisas no papel.

Fazer isso vai te abrir os olhos para:

  1. Buracos óbvios na sua lógica
  2. A melhor ordem de execução das coisas
  3. Compreensão de como as coisas estão interligadas – ou não
  4. Identificar dependências e tarefas menores que até então não estavam no radar

 

Eu particularmente uso muito o Miro nessa fase – além do Sheets e Docs, dependendo do projeto. Nessa etapa, o objetivo não é ser rebuscado. O objetivo é tirar a ideia da cabeça e colocá-la na sua frente, tornando-se algo estruturado.

Depois, converse com alguém sobre o que você montou, navegando nas suas anotações.

“Mas pra quê isso?”

Sabe quando você passa horas pensando em algo, mas no segundo em que você começa a explicar pra alguém, surgem detalhes novos que você não havia pensado? Então, é isso que a gente quer replicar aqui.

Programadores sabem disso muito bem. Já notou que eles sempre tem um rubber duck em suas mesas? Ou você achou que era só por nerdice? De primeira, isso pode te parecer algo infantil, mas não é: a ideia aqui é que quando você está tentando resolver um problema complexo, explicar o seu raciocínio pro patinho é geralmente a maneira mais fácil de encontrar soluções simples e óbvias.

Legal, né?

Enfim, conversar com alguém com o objetivo de identificar falhas no seu raciocínio vai naturalmente te dar o super poder da autocorreção. Assumindo, é claro, que você de fato deseja isso de forma voluntária – e não fugindo dos seus shortcomings como o diabo foge da cruz. Se esse é o seu caso, começar uma terapia pode não ser uma má ideia.

Pra você entender o quão longe isso vai: a cura através da fala (a tal da psicanálise) funciona pelo mesmo motivo.

Já a

 

explicação neurológica é que existem áreas do seu cérebro que não possuem conexão direta ou vias de mão dupla entre elas. Porém, ao falar ou escrever, essas ligações são criadas, o que desencadeia um raciocínio mais completo e estruturado.

Então na dúvida bota pra fora, pro papel, ou pro divã.

 

Acionáveis deste bloco:

  • Passe a colocar suas ideias no papel antes de começar a executá-las;
  • Discuta as suas ideias com outra pessoa, qualquer pessoa;
  • Construa o hábito de se autocorrigir.

 

Mensuração e expectativas primeiro, execução depois

Ainda não é hora de pôr a mão na massa. Mas calma, a gente tá chegando lá!

Depois de colocar tudo no papel e discutir com alguém eu penso:

“Ok, deixa eu me colocar no futuro agora. Imagina que já está pronto e já está tudo lançado. E agora? O que acontece?”

A resposta, na minha experiência, é algo tipo: “bom, agora vou precisar mensurar os resultados para saber se está dando certo ou não.”

E você quer fazer isso não só porque alguém te pediu. Não só porque a meta tem que ser batida: mas para você mesmo.

Para você saber se aquilo que você criou está cumprindo o propósito que deveria, ou não. Isso é o que mais importa. Dando certo, ou dando errado, você tem que conseguir ligar os pontos e saber explicar o que aconteceu.

Vamos dizer que o meu projeto era criar uma trilha de onboarding para meus usuários através de emails e push notifications.

Antes de pôr a mão na massa, eu penso:

  1. Como eu posso saber se essa trilha está dando ou não resultado?
    1. Posso observar se quem interage com as minhas mensagens está de fato usando mais o produto ou não.
  2. E como eu meço isso, exatamente?
    1. Posso colocar como conversão o engajamento dos usuários em determinadas funcionalidades que sei que são importantes.
  3. Como posso saber que de fato é a minha iniciativa que está causando esse efeito e não alguma iniciativa de outro time, sazonalidade ou fatores externos?
    1. Dá para usar um grupo de controle. 10% dos meus usuários não vão receber minha trilha, com isso vou ter uma referência de comparação para o meu resultado.
  4. E qual pode ser o impacto no negócio?
    1. Bom, nós temos 1,000 cadastros por dia, e sei que desses, 600 nunca voltam depois do primeiro dia. Se eu conseguir recuperar 100 desses todo dia, no final terei gerado 3,000 usuários engajados a mais para o negócio.
  5. E quanto isso gera de receita?
    1. Bom, um usuário engajado fica com a gente durante 2 anos e o pessoal de Dados fez um estudo de que eles gastam em média R$2.000 no seu lifetime. Então o impacto da minha iniciativa é usuários*lifetime value.
  6. E qual o custo de implementação?
    1. Eu devo passar umas duas semanas fazendo isso. Devo também tomar uns quatro ou cinco dias de outras pessoas do nosso time. Então o risco aqui é não conseguirmos retornar esse investimento de tempo e o custo de oportunidade disso.

 

Com o tempo, ao fazer esse exercício regularmente, você começa a comparar mentalmente diferentes iniciativas e entender quais deve priorizar e quais devem ter o maior impacto. É como andar de bicicleta: das primeiras vezes você tem que se concentrar muito, pensar em cada movimento do seu corpo. Mas depois que aprende e o hábito é criado, naturalmente essas perguntas vão te vir à mente.

O legal é que as respostas que você se deu vão ser a sua linha de referência agora. Durante a execução, você vai comparar a performance real do projeto versus a sua expectativa. A diferença entre as duas é o quão boa a sua predição foi.

Exemplo: “imaginei que ia conseguir resgatar 100 usuários por dia, mas na verdade só consegui 50”.

Por você ter feito esse exercício, agora é óbvio se aquilo está tendo o resultado esperado ou não. 

Pronto, agora você já sabe: o que medir, como medir, qual o impacto no negócio, e como saber se as coisas estão indo na direção desejada.

 

Acionáveis deste bloco:

  • Tenha claro como medir o impacto do que você vai executar;
  • Entenda qual o desdobramento para o negócio;
  • Saiba quais são os riscos;
  • Mantenha isso em mente durante toda a execução.

 

O pulo do gato

Aqui é a parte que a galera do 100% data-driven trava o playstation.

Lembre que: dados te dizem o que está acontecendo, mas não o porquê – e muito menos o que deve ser feito sobre o problema.

Para facilitar, vou continuar aqui o exemplo de que eu sou a pessoa que precisa criar uma trilha de onboarding para melhorar a ativação do meu produto.

1/ Seu analytics vai te informar o “o quê” está acontecendo:

  • [essencial] Open rates, click rates e unsubscribe;
  • [básico] Taxas de conversão;
  • [avançado] Resultados do grupo controle vs grupo tratamento*;
  • [pro] Impacto no funil do produto;
  • [lendário] Impacto nas curvas de cohort e growth loops.

*grupo tratamento: grupo de usuários impactados pelos meus emails e pushes.

Com essas métricas você pode saber o que está acontecendo e aonde na jornada estão os problemas e oportunidades. Mesmo que você esteja só no básico, é possível ter esses insights.

2/ Já suas pesquisas, feedbacks de clientes, e dados qualitativos vão te dar indicações do que pode estar motivando o resultado:

  • Screen recording, heatmaps e afins;
  • Relatórios de bugs e erros
  • Análise de sazonalidade
  • Feedback de usuários

Daqui saem as hipóteses de por quê seus usuários estão ou não respondendo à sua iniciativa.

3/ Por último, só a sua capacidade de pensamento crítico pode encerrar esse processo e definir o como:

  • Listar hipóteses
  • Debater essas hipóteses com outras pessoas do time
  • Validar essas hipóteses para fechar o loop

Responde: qual a hipótese mais provável de solução do problema e como levá-las adiante.

Então, resumindo:

  • O analytics te dá a visão do o quê;
  • Dados qualitativos te dão as hipóteses dos porquês;
  • E o seu julgamento infere o como.

 

 

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Sou consultor na Afya portanto tenho contato semanal com o time da iClinic, vai ser um prazer trabalhar contigo!

 

O que estou lendo


Case Duolingo: “Hi, it’s Duo”: Meet the AI behind the meme
O time do Duolingo publicou esse artigo super legal mostrando um pouco dos bastidores de como eles escolhem quais templates vão mandar para os seus usuários. É uma leitura curta, vale a pena.

 

Cashversiting do Drew Eric Whitman
Peguei essa dica numa entrevista do Justin Welsh sobre copywriting e estou achando o livro muito bom, cheio de dicas acionáveis e exemplos. Como tenho escrito muito, tem sido um prato cheio.

 

ps: obrigado a todas as 162 pessoas que se inscreveram nessa news desde a semana passada. Fico feliz de ver tanta gente entrando, dando feedbacks, sugestões e recomendando a outros amigos.

 

Essas primeiras semanas devem continuar a ser de muita experimentação e papos individuais para pegar as percepções de vocês.