Retenção é a nova Aquisição

Retenção é a nova aquisição

Percebo um equívoco no nosso mercado atualmente: estamos confundindo Aquisição com Growth.

E isso não poderia estar mais longe da verdade.

Entendo que existem pelo menos três tipos diferentes de Growth:

– User Growth (usuários)
– Revenue Growth (monetização)
– Usage Growth (engajamento)

Se estamos falando de Growth para receita, você pode  facilmente fazer isso focando só em monetização. Acredito que esse ângulo por si só já ajude a explicar por que Aquisição não necessariamente leva ao Crescimento – mas vamos mais a fundo.

Mas vamos mais a fundo porque não acho que isso seja verdade apenas do ponto de vista da receita.

Minha sensação é que quando falamos de Crescimento, estamos pensando só em Aquisição. E embora não seja completamente errado pensar assim, acredito que é uma visão míope e que pode limitar severamente nossa abordagem.

Podemos ver isso refletido nos cargos que temos agora, inclusive. Seja em posições SEM (SEO + Performance) disfarçadas de Growth Marketing. Ou Lifecycle, Marketing de Conteúdo, SEO ou Performance Marketing. É tudo Growth Marketing agora.

Então deve significar que é tudo Growth, certo? Na verdade, não.

Podemos concordar que Growth Marketing tem muito a ver com disciplinas orientadas puramente a Aquisição. Mas agora não Growth como um todo.

Para crescer, um produto ou serviço precisa ser capaz de acumular clientes – com grande ênfase na parte de acumular.

Caso contrário, eles produtos crescerão e cairão tão rápido quanto o hype do Clubhouse – ou Google+, Periscope e tantos outros. São muitos os exemplos de empresas cresceram espetacularmente de início mas mesmo assim falharam. E falharam por não entregar valor suficiente, que é uma das principais causas (senão a maior) de churn irreverscível.

ps: lembra que na semana passada discutimos por que o engajamento leva à retenção – e não o contrário.

A retenção determina a rapidez com que sua aquisição pode ser traduzida em Growth. Não qualquer tipo de Growth, aliás, mas aquele que gostamos de ver: consistente, estável e pronto para virar uma bola de neve imparável.

Mas às vezes acho que nos esquecemos disso.

Growth comparison between companies with the same acquisition but different retention rates

Growth comparison between companies with the same acquisition but different retention rates

 

Mesmo em um cenário muito otimista onde uma empresa consegue adquirir novos clientes todos os meses, eventualmente ela esgotará o seu público. Em algum momento, elas precisarão do maior número possível de clientes recorrentes para continuar crescendo. E elas precisarão que esses clientes espalhem a notícia para manter seu custo de aquisição de clientes (CAC) sob controle.

E isso vai além do problema do balde furado. Trata-se na verdade de ter foco no cliente e entregar valor. Isso porque:

A retenção é um excelente sinal de product-market-fit – especialmente para produtos pagos.

Product-market fit sinaliza a felicidade do cliente.

A felicidade do cliente sinaliza um boca a boca positivo.

Boca a boca positivo impulsiona indicações entre clientes.

O que impulsiona o crescimento composto.

Eu diria até que a Aquisição é quase inútil se você não puder entregar o que foi prometido aos seus clientes.

Crescimento tem tanto a ver com Retenção quanto com Aquisição. Caramba, eu até argumentaria que é realmente mais importante.

Porque retenção é o que você quer, é o que você não consegue fingir ou inflar. Não há maneira de contornar isso: ou seu produto cumpre sua promessa aos clientes, ou não.

Afinal, a Aquisição pode ser comprada; A retenção deve ser conquistada.

How retention drives acquisition

How retention drives acquisition

“E o comércio eletrônico?” você pergunta. “Eles podem confiar 100% na aquisição e tudo bem”

Na verdade acredito que a mesma lógica valha para eles também.

E-commerces contam com a fidelização de clientes para crescerem de forma saudável, além de dependerem do boca a boca positivo para atrair novos clientes. Caso contrário, eles seriam forçados a adquirir novos usuários indefinidamente. Isso seria um problema sério porque eles dependem principalmente de aquisições paga, onde o custo tende a só aumentar com o tempo.

Mesmo no caso raro de você conseguir ser mais esperto que seus clientes e empurrar lixo para eles, você acabaria acumulando muitos detratores. Isso gera um boca a boca negativo que se espalha rapidamente ao ponto em que a aquisição de novos usuários se torna praticamente impossível.

É por isso que tantos produtos zoados nunca decolam: embora eles sejam capazes de gerar vendas de início, em algum momento, tudo para: clientes irritados começam a reclamar e a denunciar por toda a internet e game over.

Isso também explica por que esses tipos de produtos exploram canais de distribuição onde o feedback do cliente é ruim ou inexistente (pense em produtos fraudulentos anunciados para idosos em programas de TV, por exemplo).

Pra quê essa discussão?

Há muita confusão sobre Growth, Growth Marketing, Retenção e Engajamento, Growth e Product Growth, Product Marketing, etc. As pessoas podem dizer que existem diferentes interpretações e está tudo bem, mas eu discordo. O que eu vejo é que essas múltiplas interpretações nos atrasam e ficam no caminho de conseguirmos de fazer nosso melhor trabalho.

A melhor colaboração acontece quando nossa comunicação é clara e assertiva. E isso só acontece quando somos capazes de ter a mesma compreensão do que queremos dizer quando falamos uns com os outros.

Então, continuarei discutindo essas definições com o maior número de pessoas que puder até chegarmos a um consenso.

Também estou ciente de que esse tópico me incomoda mais do que o normal por causa da minha idiossincrasia, mas tudo bem.

Se você não concorda com algo que escrevi aqui, me escreve de volta: adoraria explorar outras possibilidades com você e publicar uma versão atualizada deste artigo.

 

Ah, e não esqueci que semana passada prometi um artigo sobre Ativação. Mas ao escrevê-lo percebi que era mais importante passar por esse exercício primeiro. Chegaremos lá, não se preocupe.

 

 

📕O que tenho lido

How to design a referral program by Andrew Chen: ótimo momento de Andrew para lançar este artigo no mesmo período em que começamos a falar de Growth 😉

New App Store ads: a Apple continua a expandir seu negócio de anúncios adicionando um novo bloco de anúncios à App Store.

App Indexing, Como Aprofundar em Growth e CRM, etc | NR #4

A newsletter de hoje é uma seleção de perguntas de alunos dos meus cursos de ASO e Product Growth (PM3), além dos directs que recebo aqui e ali.

Eram 23 ótimas perguntas no total, mas não deu tempo de formatar tudo. Ou seja: tem muito mais material pra sair, caso gostem do formato. Pensei em fazer disso um podcast ou mesmo um vídeo mensal em paralelo à newsletter, mas tudo ainda muito no campo das ideias. Fora que nada disso paga as minhas contas e tenho dois filhotes para cuidar, então… Pra já, faço o melhor que eu posso com o tempo que tenho 🙂

Enfim, editei um pouco as perguntas para deixá-las mais sucintas e anônimas; Já as respostas foram revisadas e aprofundadas para serem úteis para mais pessoas além de quem as perguntou.

Boa leitura!

 

ps: queria deixar aqui as minhas boas vindas para os 51 novos chegados da semana. As primeiras edições podem ser lidas no meu site caso queira pegar o conteúdo do começo. E meu sincero MUITO OBRIGADO a todos que estão recomendando essa news para amigos, significa muito ver isso acontecendo de forma orgânica. Vocês são foda!

 

Senta que lá vem resposta

Perguntas de App Store Optimization e App Growth

1/ Para o meu app aparecer nos resultados do Google eu preciso configurar algo nas lojas?

Não precisa configurar nada na App Store ou Google Play, a configuração é dentro do seu app mesmo.

O que você está procurando aqui é uma coisa chamada App Indexing. É algo que o Google criou para indexar conteúdos de apps dentro dos seus resultados de busca. E sim, isso é tão poderoso quanto parece que é. Mas, contudo, existem alguns pré-requisitos:

  1. Você deve ter um site web que reflita o conteúdo e funcionalidades do seu app;
  2. Seu conteúdo não pode estar protegido por login e senha;
  3. Você precisa ter deep links implementados. Para isso, é preciso listar seus links no manifest do seu app (seu time de Engenharia vai saber o que é esse palavrão); 
  4. Por último, é preciso verificar ownership do conteúdo pelo Search Console. 

A ideia dos depp links é ter URLs para cada tela ou área do seu app – que nem um site mesmo. Isso permite ao Google redirecionar o usuário para uma determinada tela, evitando que ele tenha que navegar pela home até encontrar o conteúdo ou funcionalidade desejada.

Caso seu app e site não sejam 100% iguais, não tem problema: o importante é ter ali pelo menos algumas páginas que sejam equivalentes entre si. Isso já é suficiente para indexar algumas partes do seu app no Google.

A dificuldade aqui é que apps por padrão não possuem links que nem um site normal. É daí que vem a necessidade de implementar os tais deep links primeiro.

Artigo: Context is What Makes Deeplinks Matter | by Austin Hay | Medium

Ter deep links é muitas vezes o que diferencia o 1% dos top apps, aliás.

Pensa nas aplicações disso: você pode mandar um push e direcionar o usuário direto para a tela onde ele pode fazer uma determinada ação; você pode ter campanhas de mídia paga que fazem o mesmo; você pode indexar seu app no Google, aumentando exponencialmente a visibilidade do seu app e seus downloads.

Não é fácil fazer esse setup já que muitos desenvolvedores não estão habituados com o processo – mas é algo que vale a pena lutar para ter.

 

2/ Tenho lido sobre “smart banner” para levar usuários do meu site para meu app. Isso é feito pela loja ou por alguma ferramenta?

Você tem que usar alguma ferramenta ou implementar no app mesmo, pela loja não dá.

Existem três opções aqui:

  1. Caso você tenha suporte de engenharia, dá para implementar de forma nativa e gratuita no iOS e Android;
  2. Caso essa não seja uma opção, você pode usar o Branch e instalá-lo você mesmo no seu site via Google Tag Manager. Para não exibir o banner quando o usuário já tiver o app instalado, aí vai ser necessário instalar a SDK deles. Fica atento só que dependendo do tamanho do seu site, essa opção pode te gerar custos;
  3. Outra opção que eu gosto muito é usar as in-app messages do Intercom, caso você já esteja usando eles.

Na OLX eu cheguei a usar a Branch e o Intercom em momentos diferentes do negócio. Minha primeira meta anual grande foi batida, inclusive, graças a esse hack (não acredito que estou usando mesmo essa palavra) – o que me levou a uma promoção pouco tempo depois.

 

3/ A partir de quantos acessos/tamanho do app seria legal fazer testes A/B? Quero rodar testes, mas temos pouco volume.

Olha, com 300 installs/dia já passa a ser possível rodar testes que não se alongam por meses a fio – mas ainda diria que é pouco.

 

Mas também não existe volume mínimo: é configurar o experimento e ver o que acontece. O próprio Google te diz quando a significância estatística é alcançada no teste.

 

Se seu app está abaixo de 300 installs/dia, é melhor focar em trazer tráfego primeiro. Você pode confiar no know-how que vocês têm do produto e dos clientes para tomar as decisões de criativos. A melhor forma que encontrei de validar as coisas nesse estágio é usar anúncios mesmo. Não é a mesma coisa, mas vai te dar insumos o suficiente para ir melhorando até que os volumes sejam mais altos.

 

Perguntas de CRM & Lifecycle Marketing

4/ Na sua opinião, o que seria essencial para profissionais analistas aprenderem? Tenho estudado as principais ferramentas de CRM; HTML e SQL; e na parte analítica, Amplitude e Appsflyer. Mas, confesso que quando olho para as vagas, fico um pouco perdida sobre qual disciplina “atacar” já que não são escopos tão bem definidos. Seria muito bom ouvir de você algumas dicas. Pelo que vejo com colegas essa é uma dúvida coletiva.

Acho que a primeira pergunta aqui é: “por que os escopos das vagas variam tanto assim?”. Creio eu que o principal motivo é que o uso do CRM muda bastante de negócio para negócio.

Tentei resumir aqui entre três tipos de empresas para exemplificar:

  1. Empresas orientadas à vendas B2B: pegada de nutrição e conversão de leads. O objetivo é basicamente “esquentar” oportunidades para o time de vendas ou converter no self-service mesmo. Depois, coisas como onboarding e recuperação de churn por vezes também caem nas responsabilidades de CRM;
  2. Já os e-commerces e produtos transacionais vão usar métodos como modelos RFM para clusterizar usuários e definir quais ofertas mandar para quem e quando.Também é o modelo mais utilizado por negócios tradicionais e grandes marcas para gerar vendas online mesmo não sendo esse o seu forte;
  3. Por último, existem empresas que vão chamar esse time de Lifecycle ou CLM – e não de CRM. Geralmente são empresas product-led (geralmente SaaS ou conteúdo por assinatura) e aplicativos. Nessas empresas, o papel de CRM vai muito além de esquentar leads ou gerar vendas: o papel é ajudar os usuários a criarem o hábito de usar o produto – o que é bem mais complexo por n motivos. Por isso mesmo eles chamam esses times de outra forma. Algumas empresas estão inclusive colocando esses times sob a alçada de Produto, e não de Marketing, dada complexidade e as dependências técnicas envolvidas.

Então a pergunta que eu te faria de volta aqui é: em qual desses grupos você quer ficar?

A partir dessa resposta, você pode trilhar o seu plano de estudos e progressão de carreira.

Para deixar essa resposta o mais completa possível, vou assumir que você está mirando na opção 3. Isso porque eu sei que eu contrataria alguém de Lifecycle para tocar CRM de olhos fechados. Já o contrário eu só faria depois de uma bela entrevista técnica. Portanto, chegar nesse nível provavelmente é o seu objeto de desejo.

(Deus, não me deixa ser cancelado agora que eu to pegando tração só porque eu falei isso, essa é só a minha opinião)

E, pra ser bom de Lifecycle, você tem que dominar:

  • Jornada do cliente: saber mapear a jornada do produto, mensurar as perdas de cada estágio, e rodar pesquisas para entender o porquê dessas perdas;
  • Entender o cliente com profundidade e seus Jobs to be Done: entender a dor do cliente e o que ele quer resolver com seu produto é chave. Depois disso, é trabalhar de trás pra frente que não tem erro;
  • Copywriting: tem que escrever bem e, preferencialmente, gostar de escrever. Eu não acredito em delegar copy de Lifecycle para outras pessoas. O que pode acontecer é você ter um apoio de um especialista, mas delegar, jamais, já que o que você comunica é parte inerente da estratégia. Delegar o copy é, na verdade, delegar o trabalho todo;
  • Orientação a dados: acho muito legal você estar estudando SQL, isso vai te dar uma vantagem muito grande em relação aos outros. Só não esquece de estudar sobre curvas de retenção, cohorts, e quick ratio (na pergunta de Growth eu deixei algumas recomendações de livros e artigos sobre isso tudo) – isso vai te dar uma vantagem competitiva absurda.

Como você pode ver, várias dessas skills tem overlap com UX e Produto. Então você pode ir beber da mesma fonte que essas pessoas e buscar trabalhar em parceria com elas na sua empresa para acelerar o seu desenvolvimento.

E, só pra deixar claro: não estou falando que analista de Lifecycle tem que manjar de Product Management com profundidade. Mas roubar alguns dos conceitos dessa área com certeza vai te ajudar a se tornar uma profissional fora da curva.

Sobre conhecimento em ferramentas de CRM específicas, eu colocaria isso em segundo plano. A única coisa que você precisa saber é quais são as principais plataformas e o que elas possuem de diferente uma das outras. O importante mesmo é saber os princípios da coisa e conseguir aplicá-los independentemente do seu ferramental.

 

Growth

5/ Cara, quero me aprofundar no Growth mas não encontro conteúdos bons o suficiente. Consegue indicar alguma coisa?

Consigo indicar muita coisa, mas não sei se tudo faz sentido pra você. Também não sei o que você já leu até agora e qual seu nível de experiência. Então coloquei aqui embaixo os principais recursos que eu mesmo usei. Aí você pode selecionar o que faz mais sentido no seu caso.

A princípio, tudo que está abaixo é o que eu considero a bibliografia essencial de Growth.

Blogs

Livros

Palestras e Aulas gratuitas

Cursos

  • Product Growth da PM3: tenho quatro aulas lá e um baita orgulho do material. Pra quem busca uma opção mais direcionada a Produto, e em português, essa é a melhor opção (link com 10% de desconto);
  • A Reforge foi o programa que consolidou a minha carreira em Growth. Aliás, eles tem um monte de cursos agora. O conteúdo é em inglês e o investimento é alto, mas vale a pena. Aliás, eu escrevi esse artigo contando como foi minha experiência.

Se você já domina tudo isso, suas opções de literatura de estudos não são tão amplas. 

Mas posso te dizer o que eu tenho feito para continuar evoluindo: crio conteúdo e compartilho com outras pessoas; organizo comitês nas empresas onde eu trabalho para trocar com outros profissionais; ouço podcasts e entrevistas de pessoas que eu admiro; e acima de tudo: experimento novas táticas quase toda semana.

Depois que você aprende o essencial, só a prática, o estudo contínuo, e a auto-reflexão podem te levar para outro nível.

Que nem essa newsletter aqui. Ela é a minha forma de exercitar um montão de coisas e experimentar coisas novas toda semana. Legal, né?

 

Conclusão

Fiz o melhor que eu pude para tentar responder as perguntas, mas é importante lembrar que eu não tenho todo o contexto e que algumas coisas podem ser interpretadas de formas diferentes da minha (obviamente).

Espero que tenha gostado e que pelo menos uma dessas perguntas te tenha sido útil de alguma forma.

 

👇 Quer aprofundar? Vota que um desses vai virar live:

Alguns dos temas que surgiram aqui daria para falar muito mais a fundo. Clica nas opções abaixo para eu saber qual a gente deve conversar mais sobre:

  1. Como aprofundar sua expertise em CRM/Lifecycle?
  2. App Indexing e Deep Linking
  3. Testes A/B no Google Play
  4. Como se tornar um profissional de Growth de elite

E para mandar sua pergunta é só responder a esse email 😉

 

📕 O que estou lendo


Livro: Almanaque do Naval Ravikant

Esse eu li logo quando lançou, mas recentemente o li de novo por conta do Mastermind semanal que tenho com alguns amigos. Esse livro é daqueles que estão no topo dos que mais mudaram para melhor o meu jeito de pensar. Aliás, dá para arriscar até que ele foi crucial para eu estar escrevendo tanto hoje em dia. Vou deixar aqui algumas das minhas frases preferidas desse livro:

  • “Seek wealth, not money or status. Wealth is having assets that earn while you sleep. Money is how we transfer time and wealth. Status is your place in the social hierarchy.”
  • “Understand ethical wealth creation is possible. If you secretly despise wealth, it will elude you.”
  • “Play long-term games with long-term people.”
  • “Building specific knowledge will feel like play to you but will look like work to others.”

Por acaso eu perco total a noção do tempo quando estou escrevendo essa newsletter 🙂

 

Se está curtindo esses contéudos, você também pode gostar:

Ou recomenda essa news para os seus amigos. O link é esse aqui.

Até a próxima! 👋

 

Os meus 5 princípios de Lifecycle e CRM | NR #2

Senta que lá vem história

O maior privilégio de trabalhar como consultor e em projetos paralelos é ter a oportunidade de descobrir diversas formas de fazer as mesmas coisas.

Depois de um certo tempo, você também começa a se pegar repetindo as mesmas coisas. Esse é o momento que eu entrei nesses últimos dois ou três anos.

Não acho isso ruim de todo ruim: cada projeto tem o seu próprio ângulo único que torna aquela empreitada interessante. Casos extremos são legais porque nos levam até o limite das nossas habilidades e nos ajudam a distinguir o imutável do variável. E nesse jogo sempre existe algo novo a aprender, sempre.

E quando repito um processo em novos projetos, me pego conectando os pontos que então se tornam princípios fundamentais na minha cabeça. Fundamentais porque vejo que eles são aplicáveis em diversas situações, mesmo em contextos muito diferentes.

Os princípios que você vai ler abaixo nada mais são que esses tais pontos em comum que venho extraindo e tomando anotando. No meu caso, essas experiências me são mais proeminentemente do meu trabalho na Social Miner, OLX Portugal, Afya e Easy App Reports (note o abismo entre os modelos de negócios, indústrias e alcance dessas empresas – mas que mesmo assim compartilharam das mesmas dores quando falamos de Lifecycle e CRM).

O texto abaixo requer uma certa dose de abstração para ser aplicável em outras situações, mas nada disso é só teórico.

Esses conceitos me ajudam a tirar times do zero que geram 5-7 dígitos de faturamento incremental por mês e são responsáveis por 30%+ do sucesso de melhorias de engajamento que alcançamos.

ps: coloco os nomes “Lifecycle e CRM” no título porque entendo que estamos passando por um momento de transição, onde os nomes se confundem bastante. Mas entendo que o melhor nome seria Lifecycle, até para diferenciar do CRM de Vendas que é o que a maioria tem na cabeça.


Meus 5 Princípios para Gestão de Lifecycle e CRM

  1. Mensurar resultados sempre em receita
  2. Dominar a jornada do cliente não é opcional
  3. Tracking e ferramentas são como oxigênio para o time
  4. Só enviar mais emails não conserta engajamento nenhum
  5. Comunicações pontuais e automatizadas exigem estratégias e operações diferentes

 

Para fins didáticos – e pra fazer um flex maneiro das minhas skills de Lifecycle – vou destrinchar esses conceitos em ordem lógica ao invés da ordem acima.

 

Comunicações pontuais e automatizadas exigem estratégias e operações diferentes

Temos aqui grupos bem distintos de atividades que um time desses é responsável:

  1. Comunicações Pontuais: tudo o que é não automatizável ou previsível e possui datas fixas não negociáveis. São ofertas sazonais, campanhas de marca, pesquisas, comunicados, etc;
  2. Comunicações Recorrentes: newsletters em sua grande maioria, mas também atualizações de termos de uso e outras comunicações frequentes;
  3. Trilhas automatizadas e comunicações de produto: entram aqui trilhas de ativação, engajamento e retenção, bem como a promoção de novas funcionalidades do produto;
  4. Mensagens Transacionais: confirmação de email, alertas gerados por comportamento de outros usuários (ex: fulano te adicionou), avisos de falha de pagamento, troca de senha, etc.

 

Além disso, alguns times chegam a expandir um pouco mais a sua alçada, trazendo responsabilidades como:

  1. Trilhas de nutrição de leads: sequências de mensagens enviadas com objetivo de educar leads e convertê-las no final de uma jornada. Geralmente sob alçada de inbound marketing;
  2. Campanhas de retargeting: para resgatar aqueles que não engajam com todas acima. Geralmente sob alçada de mídia paga;

 

Note a diferença de objetivos entre as seis disciplinas acima.

Note também a amplitude de skills, processos, relatórios e integrações necessárias para executar bem cada disciplina dessa.

Não sei você, mas três coisas ficam muito claras pra mim quando olho essa lista:

  1. Não dá para mensurar isso tudo da mesma forma
  2. Não dá para executar e operar da mesma forma (vou aprofundar nesse mais pra frente)
  3. O ritmo do dia-a-dia e necessidades de quem está na linha de frente devem ser bem diferentes

Então porque iríamos gerenciar isso tudo seguindo a mesma fórmula?

É por isso que uma das primeiras coisas que faço quando chego em um time que já opera com essas atividades é aplicar gestões diferentes, metas e rituais diferentes. Não é preciso separar os times, mas pode ser preciso subdividir e apoiá-los de forma distinta:

Uma parte é gerida como um time de comunicação, responsável por disparos pontuais e recorrentes:

Já o time de Lifecycle fica com a parte mais relacionada a produto e trilhas automatizadas:

Entendo que existem muitas variações desse setup dependendo do seu negócio – e se você também é responsável por áreas como Inbound Marketing e Mídia Paga. Minha ideia aqui não é propor uma estrutura ideal, e sim propor que você opere essas células de acordo com suas necessidades.

Vantagens desse setup:

  • Facilidade em otimizar a operação que trabalha com calendários e demandas de outros times. Ao mesmo tempo, o outro tem o headspace para trabalhar em projetos mais longos e complexos que muitas vezes demandam estudo prévio e longos períodos de análise;
  • Facilidade em definir métricas de acompanhamento para cada célula;
  • Rituais e processos focados na necessidade de cada célula.

Potenciais problemas:

  • Time de comunicação ficar desmotivado por fazer trabalhos considerados operacionais, quando o de Lifecycle pode se isolar muito da realidade e perder senso de urgência;
    • Solução: (1) Ter metas de receita para medir sucesso e não em quantidade de emails enviados; (2) Automatizar processo para comunicações que não geram valor monetário (ex: avisos de atualização de termos de uso); (3) Definir bons KRs, acionáveis e mensuráveis diariamente, no mínimo.
  • Uma pastelaria de emails pode acabar se formando sem querer
    • Solução: eleger uma pessoa que possa filtrar e priorizar demandas. Geralmente é o coordenador, gerente de projeto ou membro mais sênior do time que faz esse papel.

Independentemente da opção que você escolher, o importante é abraçar o fato de que você tem mais de uma operação sobre a sua alçada – e agir de acordo.

 

Dominar a jornada do cliente não é opcional

Refazer os passos do seu cliente e documentar os aprendizados colhidos é sempre o primeiro passo antes de começar qualquer trabalho de comunicação.

Qualquer coisa feita sem essa visão é um grande desperdício de tempo e recursos. Contenha o impulso de pular para o modo de escrita e produção. Sei que você vai sentir que está protelando: você não está.

Ao invés disso, proponho os seguintes passos:

  1. Repita a jornada que o usuário faz no seu produto e vá tomando nota durante o caminho: destaque becos sem saída no produto, fluxos estranhos, falta de informação, bugs, copy que não faz sentido, etc – nessa live mostro brevemente como;
  2. Apele pro Google Analytics para ter uma ideia das taxas de passagem de cada etapa do produto;
  3. Entenda quais são os Jobs to be Done da sua solução;
  4. Entenda de quanto em quanto tempo seria esperado o seu cliente usar o seu produto;
  5. E, no mundo ideal, tenha em mãos um gráfico como esse que te diga em que momento da jornada você perde mais usuários – ok se não tiver isso já agora.

Você também pode ir além, observar seus concorrentes e o mercado, mas sugiro guardar essa munição para um segundo momento. Fazer isso agora só vai te embaralhar a cabeça.

“Mas Rômulo, essas são skills de UX, Produto e Analytics. Não dá para pedir pra uma pessoa que só tem experiência em disparar email fazer essas coisas”.

Então…

Esse é exatamente o motivo pelo qual eu entendo que tenho que gerir os meus profissionais de Lifecycle de forma diferente.

Segundo, uma solução curto-prazo é que você, gerente ou coordenadora, faça esse papel num primeiro momento.

Aqui, vale a pena a reflexão honesta: será que eu tenho essas skills?

Se você não tem, não é o fim do mundo, é uma oportunidade. Continue seguindo essa news e minhas lives no YouTube. Logo vão sair alguns materiais pra você aprender tudo isso em poucos dias.

Agora ao próximo ponto:

 

Só enviar mais emails não conserta engajamento

Na OLX aprendi que “you can’t Lifecycle your way out of product problems” (não sei se essa frase é traduzível, então, me perdoe).

Uma variação da agora famosa frase da PM3 de que “Growth não salva produto ruim”.

Quem nunca chegou pro chefe e prometeu que “se a gente enviar os emails X, Y, e Z, nosso problema de engajamento e retenção vai melhorar”?

Até hoje, ainda estou pra ver um produto que teve sua retenção milagrosamente salva porque agora “enviamos newsletters super legais” ou mais emails de onboarding.

Geralmente isso acaba por piorar o problema, inclusive.

Mas com o exercício que você fez no princípio anterior de refazer a jornada e entender o seu cliente, muita coisa vai ficar clara.

A clareza que bate é uma certa frustração de que a solução está no produto e não em Lifecycle. Relaxa, existem formas de contornar isso.

A outra, é que agora você entende: (1) porque seus usuários não estão engajando; (2) em que momento da jornada isso acontece; (3) como medir o seu sucesso; (4) ideias de como chegar lá.

É perfeitamente possível que parte da solução sejam sim alguns emails. Mas provavelmente não é a solução completa ou a melhor solução.

Profissionais experientes de engajamento sabem que seu trabalho é ajudar o usuário a conseguir o que ele quer com a menor fricção possível. E isso passa por usar táticas diferentes para cada problema

Isso pode querer dizer, por exemplo, oferecer webinars coletivos de onboarding no caso de produtos B2B e SaaS. Pode querer dizer, uma in-app message após o cadastro, mostrando qual o próximo passo a seguir. Pode ser retargeting para comunicar algum benefício q

ue não esteja claro no produto. Pode ser criar um sistema de recomendação de conteúdo.

Enfim, pode ser muita coisa. Mas não vá com muita sede ao pote enviando emails a torto e à direita.

Essa complexidade toda, aliás, que cada vez mais os times de Lifecycle estão reportando para Produto e não mais para o Marketing.

Exemplos de notificações in-app e tours do Intercom

O que me leva ao próximo princípio:

 

Tracking e ferramentas são como oxigênio para o time

Sem tracking e sem ferramentas bem implementadas não existe trabalho bem feito de Lifecycle ou CRM. Não existe mensuração e inteligência: só um time tentando fazer o seu melhor com o que tem – antes de acabar por ficar desmotivado.

Para saber se você tem “tracking e ferramentas bem implementadas”, basta se perguntar:

  1. Meu time consegue segmentar usuários por eventos e também por atributos?¹
  2. Minhas ferramentas conversam umas com as outras, retroalimentando-se com informações cruciais sobre o status dos meus clientes?²
  3. Meu time consegue medir resultados a nível de conversão e receita com independência?³

Se respondeu sim para duas ou três, parabéns, você está na frente de 80% do mercado.

Se respondeu sim para uma – ou nenhuma – é sinal de mato alto pela frente. Isso não é uma má notícia. Especialmente se sua empresa performa bem apesar desses desfalques, fique feliz porque você tem altas chances de ter um case de sucesso em mãos – e talvez até uma bela promoção à vista.

Caso você não seja a pessoa mais técnica ou analítica do mundo, não se desespere.

Você consegue fazer tudo isso por si mesmo via Google Tag Manager (esse curso de 1 hora está no YouTube de graça) e via Zapier (eles tem receitas de automação prontas, basta seguir as instruções).

O que não é opcional mesmo é ter brio.

Dica: não culpe o time de Produto, Engenharia, ou Dados por esses problemas antes de buscar uma solução provisória. Quando ouço alguém apontando dedos antes de tentar resolver o problema por si só, penso que “essa pessoa não sabe pesquisar as coisas no Google e aprender sozinha” e não “que absurdo, ninguém ajuda”.

Parte do seu trabalho como profissional de Marketing é se virar com ferramentas que tem, montar um case e provar que faz toda a diferença fazer essas implementações corretamente.

Se automação for um passo muito grande, faça o seguinte: extraia segmentações manualmente para mostrar que, com os dados certos, você consegue ser 10x mais eficiente. Esse é o seu case para pedir ajuda de outros times.

Olhando por essa perspectiva e a dependência de Lifecycle em relação a tracking e ferramentas, fica ainda mais claro o porque esses times estão sendo cada vez mais instalados dentro de Produto.

 

¹ Exemplos de Eventos: clicou no botão de compra, fez um cadastro, visitou a página X, etc.

² Exemplos de propriedades ou atributos do usuário: idade, indústria, plano, região, fonte de tráfego, quanto já gastou comigo, etc.

³ Exemplo de retroalimentação: quando é fechado contrato com um cliente no CRM de Vendas, essa informação vai para minha ferramenta de mensageria, analytics e ads.

 

Mensurar resultados sempre em receita

“Só faço as trilhas para nutrir leads, não tenho visão de conversões” (releia o princípio anterior)

“Mas o meu trabalho é enviar newsletters, não gerar conversões de venda”

“Mas eu só faço aqui uns pushs de engajamento, não existe receita atrelada”

“Meu trabalho é recuperar churn e não gerar receita”

Se você é o líder do time, não aceite essas respostas. Pergunte de volta “ok, e como a ação que incentivamos pelo seu canal poderia ser traduzida em receita, mesmo que de forma indireta?”

Dificilmente você vai ter uma resposta boa. Tente ser compreensivo, é bem capaz que seja a primeira vez que aquela pessoa esteja sendo confrontado com esse tipo de pergunta. Em seguida, ofereça espaço e suporte: “Tudo bem se ainda não sabemos. Mas então essa tem que ser a nossa primeira missão, não acha?”

Lembrando que a outra opção é olhar para o outro lado e deixar a pastelaria crescer.

Seguem as minhas sugestões de como calcular o valor das suas comunicações com o mínimo de complexidade possível:

Newsletters

  • Medir oportunidades ou vendas geradas, e novos inscritos gerados (referrals) a partir das newsletters;
  • Assumir um valor monetário para cada venda/oportunidade/referral;
  • Multiplique os dois para ter um proxy de receita.

Churn

  • Mensurar churns recuperados por causa das suas comunicações;
  • Cada churn significa uma receita recuperada de X pela empresa, seu time de Vendas ou Dados deve ter esse número de cabeça. Se não tiver, um número aproximado é mais que suficiente para começar;
  • Multiplique os dois para ter uma ideia da receita que você recupera para a empresa.

Mensagens de engajamento

  • Rodar grupos de controle: alguns usuários recebem suas mensagens, outros não;
    • Ferramentas como o Intercom e Braze [LINKS] possuem isso embutido em seus sistemas. Na falta disso, faça esse controle manualmente via Excel;
  • Análise a taxa de engajamento das pessoas que receberam as mensagens versus as que não recebem: a diferença entre os dois é o valor que você gera;
  • Converse com seu gerente para entender qual o valor de cada engajamento e use isso como forma de calcular o valor gerado pelas suas notificações.

Acho que deu pra pegar a ideia.

Caso não consiga fazer nada disso por falta de tracking, retorne no princípio anterior.

 

Ok, mas e agora, faço o que?

Se você já aplica todos esses princípios na sua operação, meus parabéns: você está muito acima da média. Esse não é o fim da jornada, obviamente, mas é um belo começo.

Agora, se você está arrancando os cabelos com esse monte de coisa: calma que tudo se resolve. Faz isso:

  1. Comenta nesse post com suas perguntas, desabafos e coisas que você discorda, pra gente continuar a discussão;
  2. Vem pra minha live semana que vem (clica para ser avisado).

Vou mostrar como o Airbnb aplica muitos dos princípios que menciono neste e-mail para montar trilhas de email que agregam muito valor para os seus usuários – e gerando muitas vendas com isso. Guarda seu lugar lá.

 

Leituras complementares

  1. Esse ótimo artigo da Phiture defende a ideia de CRM (Lifecycle) reportar para Produto e não Marketing – ideia da qual venho cada vez mais considerando em adotar;
  2. Livro Princípios, do Ray Dalio: esse é um dos livros que mais impactaram minha forma de pensar. O meu princípio favorito desse livro é o Pain + Reflection = Progress.

 

Quer retribuir de alguma forma?

Encaminhe essa newsletter para alguém que pode curtir esse conteúdo também. Ou passe esse link para a pessoa se cadastrar 🙂

 

Até a próxima!